quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A Língua: Lacan, Guimarães Rosa e Caetano



"a língua  e eu somos um casal de amantes que juntos procriam apaixonadamente, mas a quem até hoje foi negada a bênção eclesiástica e científica." (Guimarães Rosa, citação em "Primeiras estórias", 2005, p. 8)
  
Criada num lapso por Lacan ( no Seminário "O saber do psicanalista"), a Lalangue é o meio pelo qual a linguagem intervém. A Língua é a "amante" de um certo João, conhecido como Guimarães Rosa, que o fez seguir na prosa da literatura como se fizesse poesia. Há Língua definitivamente nas canções do criativo e irreverente Caetano Veloso. Não só quando na "Língua" ela assume o lugar de mátria, mas em tantas outras palavras onde se pode ver o amor pelo literal (litoral), onde nada se escreve fora da palavra, na margem da palavra a não ser o silêncio de um puro Real da música e da voz do cantor. 

Disso ecoam algumas frases do psicanalista Lacan tão conectadas a essa poesia da música e da literatura, da arte, enfim. 
"Eu trabalho no impossível de dizer. Dizer é outra coisa que falar. O analisante fala. Ele faz  poesia. Ele faz poesia quando ele aqui chega, é pouco frequente, mas ele é arte (Il est art). Eu corto porque eu não quero dizer é tarde (Il est tard). O analista, ele, fatia (tranche). O que ele diz é corte, isto é, participa da escrita, exceto que ele se equivoque acerca da ortografia.” (Lacan, J. Le moment de conclure, 20/12/1977, inédito In Porge, E. Des Fondements de la Clinique psychanalytique, p. 40)  
"O dizer fica esquecido por  trás do dito" (Lacan, O Aturdito, [1972]2003, p. 449). Esquecido não no sentido de reclacado, mas de ex-sistente (existente fora/antes). O esquecido aqui, como frisa Lacan nesse mesmo texto, não está relacionado à memória, mas à existência. Esse dizer como o qual o analista trabalha é também a lavra do escritor. É o pai da palavra, tão bem conhecido por Guimarães Rosa, e encarnado na figura do pai que parte em silêncio em sua canoa, num dos textos mais valiosos da literatura brasileira, "A Terceira Margem do Rio".
O pai que parte e nunca volta é esse silêncio rio a fora, que faz o filho falar, escrever o texto. Esse dizer, concretizado no  duro-puro (aqui faço referência a Caetano[1]) silêncio paterno, é a ex-sistência das palavras do filho. O antes de qualquer significante.   Isso que nos toca antes da palavra e que  só depois quando ela chega se pode dizer tocado.
E, no que me toca, a Língua é coisa séria... Mais uma vez Lacan (Ou pire...[1971-1972]2008, p. 71), na aula em que apresenta o Nó Borromeano:
"O que me toca é que durante séculos, quando se tocava na língua, se falava para tomar cuidado! Há uma letra que só aparece geralmente à margem na composição fonética, é essa aqui [H], que se pronuncia hache em francês. Não toque no machado[2], é isso que era prudente durante os séculos quando se tocava na língua. Porque se achou que durante os séculos, quando se tocava na língua, em público, isso fazia efeito, um efeito diferente da diversão..."
O divertimento sério que nos propõe Lacan nessa aula e no seu ensino, eu ousaria dizer que é bem parecido com a brincadeira do moleque Caetano Veloso e com a paixão do tri-marginal João Guimarães Rosa! 
Sempre na margem da palavra...
Patrícia Pinheiro  





[1] “A terceira margem do rio” (música de Milton Nascimento e letra de Caetano Veloso)
[2] A palavra hache em francês significa machado; é homógrafa ao nome da letra H, hache. (Nota da tradutora)


domingo, 7 de agosto de 2011

NÚCLEO DE ESTUDOS DAS PSICOSES

* 1. Por que criar um Núcleo de estudos das psicoses?
Porque acredito que sabemos muito pouco sobre a loucura e suas manifestações...
Quando eu ainda era uma estudante do 3º ano do segundo grau, hoje ensino médio, houve um ciclo de palestras no meu colégio para auxiliar na escolha da profissão. O palestrante que mais me marcou foi o psiquiatra Alaor Coutinho. Não consigo esquecer sua maneira entusiasta ao falar sobre o louco e a loucura. Porque precisei fazer outras escolhas antes de me render ao desejo de escutar a psicose, é outra história... Mas o fato é que ao me tornar psicanalista isso me pegou!   
O “núcleo” - Núcleo de estudos das psicoses - é a com-formação desse desejo calado que pode encontrar espaço na TRICICLO, na minha formação como analista e nos meus estudos insistentemente endereçados à Universidade.
Voilá! Eis-me aqui, de forma apaixonada, convocando os interessados na temática para boas conversas, presenciais ou on-line, a partir de setembro próximo.
A agenda sairá em breve!
Patrícia Pinheiro

sábado, 6 de agosto de 2011

ALVARÁ DE FUNCIONAMENTO DEFINITIVO

Comunicamos aos nossos pacientes, seguidores e colegas que a TRICICLO,  funcionando com alvará provisório desde sua abertura em março deste ano, segue em seus trabalhos com alvará definitivo a partir do mês de agosto!


NOVO HORÁRIO_GRUPO DE ESTUDOS

"LACAN FUNDAMENTAL - A Carta Roubada", QUE COMEÇARÁ NA PRÓXIMA SEMANA (16.08), FUNCIONARÁ NA SEDE DA TRICICLO ÀS TERÇAS-FEIRAS DAS 18:30H ÀS 20H.
Para inscrição envie e-mail para: clintriciclo@uol.com.br