terça-feira, 22 de março de 2011

"Por que grande não gosta de brincar?"


É uma pergunta excelente, feita por uma criança de 5 anos. Pois sim, o infans e as crianças brincam, já os adultos pensam conceitualmente. Assim, não é que estes não gostem de brincar, apenas não sabem mais fazê-lo. O pensamento dos adultos deixou o mundo lúdico quando eles entraram na adolescência. Mesmo que alguma coisa do imaginário da infância se preserve, as imagos parentais se modificam já na puberdade. O que dá ao adolescente uma posição frente ao Outro (a Linguagem) bastante diferenciada daquela da criança. Inclusive uma posição sexuada, que a criança ainda não tinha. Lembremos de sua designação em Freud, como "perverso polimorfo". O infans também é visto por Lacan (Sem 5) como assujeito. Supõe-se que isso ocorra porque este ainda não pode sustentar a função de sujeito frente ao significante. Estaria o sujeito na infância como obeto a, em forma de objeto, como diz Lacan (sem 16)? Parece que sim, o infans estaria provisoriamente no lugar de objeto da fantasia parental, ou apenas de um dos pais. O que não lhe confere ainda uma posição discursiva. Parece que com o letramento ou alfabetização, a criança vai modificando essa posição.   
 O infans, a criança ainda não alfabetizada, é aquele que brinca de forma mais genuína. O processo de alfabetização modifica a relação da criança com o brincar? Apenas por observação pode-se arriscar um sim para essa questão. Como e por quê?   Essa pergunta merece uma investigação maior.Para isso, antes vale outro questionamento:
Por que as crianças brincam?
 É a forma que as crianças têm de pensar. Tudo o que elas fazem, dizem e sentem é brincadeira. Na infância brincadeira é coisa séria. A brincadeira é a relação que as crianças têm com a realidade.
Mas ambos são linguagem: a brincadeira e o pensamento conceitual dos adultos? Posso supor que sim. A criança faz absolutamente tudo brincando, o imaginário lhe serve muito. A brincadeira seria uma espécie de inscrição necessária no campo do Outro, para que a letra do Real assuma o estatuto pré-discursivo. É interessante observar que tudo isso começa no espelho, no estado de espelho, teorizado por Lacan.    Mas e antes, o bebê recém-nascido brinca? 

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