quarta-feira, 6 de abril de 2011

A MONTAGEM DA FANTASIA NA RELAÇAO MÃE-BEBÊ - PARTE 1


  ($   a )
A imagem acima grafada é o  matema da fantasia, o qual se lê: Sujeito barrado, desejo (ou punção) de a.
Vamos tentar montar esse matema na relação de uma mulher com seu bebê, entendendo essa mulher enquanto sujeito estruturado na neurose, sendo, assim, sujeito barrrado: $.
  
Por sabermos que há controvérsias quanto ao fato de uma mulher querer ou não engravidar, tomaremos, como exemplo, a situação em que esse querer é afirmativo. [Questionamos se esse querer afirmativo poderia ser a BEJAHUNG, a afirmação primordial da constituição do sujeito, o que será visto a posteriori.]  
(1) A GRAVIDEZ[1] - Em busca do objeto causa do desejo - $ ... (a)
Uma mulher quer engravidar. Em termos do inconsciente, ela seria um sujeito a quem falta algo - $ - e a gravidez seria uma procura por esse “algo”: (a), que a completaria.
Essa mulher, enquanto sujeito da falta ou sujeito barrado (representado pelo símbolo $), vê no resultado da gravidez: O Bebê, o objeto (a) que lhe resolveria a falta. O Bebê ficaria, portanto, no lugar da causa do seu desejo – de objeto a – que nessa situação é a de engravidar para ter um filho, o que lhe tornaria completa ou não faltosa. “Sinto-me plena!” Dizem algumas mulheres ao exibirem suas barrigas durante a gravidez.
Uma mulher – como sujeito da falta: $ - para se sentir completa, engravida, na tentativa de colocar “algo” (a) no lugar da falta/do desejo: O Bebê que vai nacer, objeto a. A gravidez, então, seria o artifício necessário, inventado pelo sujeito, para conseguir formatar o objeto causa de seu desejo. Representemos assim:
$ ... (a)

$ - sujeito da falta, e portanto do desejo.
...   -  A GRAVIDEZ – o tempo de espera: os nove meses

(a) – o feto, o bebê dentro da barriga ( ), que se pode sentir e ver através do Ultra som
** Destaquemos que os símbolos:   ... (reticências) e ( ) os parêntesis que envolvem o a, não são utilizados por Lacan, mas foram aqui estabelecidos numa tentativa de compreensão maior da montagem da fantasia, na situação em questão. 
____________________________
(2) O NASCIMENTO DA CRIANÇA – A operação de ALIENAÇÃO (Λ [1]) -  $ Λ a
Além de ser o $, o sujeito barrado/faltoso, é a mãe (ou quem faz a função materna) quem primeiro encarna o lugar do Outro (da linguagem). O que significa que há na mãe uma inscrição da criança, o que foi feito pelo desejo dessa mãe, sendo expresso através do querer ter um filho.
O bebê aparece como assujeitado a esse desejo materno. Assujeito, é assim que Lacan (Sem 5) designa esse sujeito a vir, que é a criança colocada, na montagem da fantasia materna, no lugar de objeto a. Poderíamos dizer, a partir de Lacan, agora no Seminário 16, que é “em fôrma” de a que aparece esse sujeito a vir, que é o bebê para sua mãe.  
·         Vejamos como isso pode começar a aparecer.
Com O Bebê em seus braços a mãe[2] lhe dá o seio[3] ou a mamadeira, que encarna o objeto de necessidade da criança, como também de demanda e de desejo, pois estão em jogo as questões tanto da alimentação quanto do afeto, ambos relacionados à manutenção da vida e à constituição subjetiva da criança. Em troca do seio – do leite + o afeto – o bebê dá, à sua mãe, as fezes (outro tipo de objeto a), que seria o que ele fabrica, o produto daquilo que ele recebe do Outro materno. Com isso, o bebê vai confirmando seu lugar de causa de desejo (a) na montagem da fantasia materna. Vai, assim, alienando-se ao desejo do Outro, entregando a este tudo o que supõe sanar a falta desse Outro materno, que é um sujeito faltoso ($).   
O Outro materno e Bebê estão (con)juntos (Λ) porque o bebê encontra-se alienado no desejo da mãe. Eis a operação subjetiva que surge com o nascimento da criança: a de ALIENAÇÃO, representada pelo símbolo matemático da conjunção: Λ.   Conceituada por Lacan (Sem 11) como fundamental para constituição do sujeito.
Representemos:
$ Λ a
$ - 0 sujeito da falta, e portanto do desejo.
Λ - operação de Alienação (representada pelo símbolo de conjunção)
a – objeto causa de desejo


[1] Lacan (Sem 11, Lição XVI ) Representa a Alienação com sendo a parte inferior (V) do losango (◊), pertencente ao matema da fantasia ( $ ◊ a) . Mas, aqui, estamos propondo que se o símbolo tomado da matemática é a conjunção(Λ) , que se represente a alienação como tal, portanto, como sendo a parte superior (Λ) do losango (◊) .
[2] Ou quem faz a função materna nesse momento.
[3] O seio ou mamadeira é um dos objetos a para a criança.
Referências:
                     I.            LACAN, J. (1968-1969/2008) O seminário Livro 16: de um Outro ao Outro. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
                    II.            LACAN, J. (1964/1998) O seminário, livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicose. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.. 
                  III.            LACAN, J. (1957-1958/1999) O seminário, livro 5: as formações do inconsciente. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.


Patrícia Pinheiro (psicanalista) – 06 de abril de 2011. (A partir da discussão do Grupo de Estudos sobre o TADH como sintoma da criança, em 31.03.2011)
           






[1] Há momentos anteriores à gravidez que são fundamentais para a constituição subjetiva da criança em jogo, aquela que vai nascer. Esse tempo antes do nascimento da criança, não do sujeito, serão comentados em breve postagem. 
[2] Ou quem faz a função materna nesse momento.
[3] O seio ou mamadeira é um dos objetos a para a criança.


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